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Museu Nacional não tem Seguro e Brigada de Incêndio

Atualizado: 4 de abr. de 2022


O prédio do Museu Nacional não possui seguro, nem brigada de incêndio por se tratar de um “custo a mais”, segundo a vice-diretora, Cristiana Serejo. Na manhã desta terça (4), novos desabamentos foram registrados na área interna do museu após o incêndio que atingiu o prédio na noite de domingo (2).

Segundo Serejo, não se sabe se alguma peça do acervo tinha seguro individual. “Só aqui, a universidade gasta R$ 8 milhões com terceirizados por mês. É caro. Estava tendo treinamento com funcionários”, afirmou a vice-diretora.

Nesta manhã, funcionários e pesquisadores do museu faziam um trabalho de catalogar e identificar cada objeto recuperado no incêndio. De acordo com Cristina Serejo, o museu está se reorganizando para continuar as pesquisas.

Apelo à população

Os cidadãos que encontrarem algum objeto ou resquício do Museu Nacional devem levar até a biblioteca, que fica em um anexo na Quinta da Boa Vista.

“Muitas das vezes, a sensação é que o frequentador não faz parte do museu. Muito pelo contrário. Os verdadeiros guardiões do museu são os moradores de São Cristóvão, são os frequentadores daqui que amam o museu. Esse símbolo que foi destruído, infelizmente. É uma tragédia e é muita emoção”, afirma o cientista social Felipe Souza.

Na manhã desta terça (4), o vigilante Felipe Farias da Silva esteve no museu para entregar uma peça encontrada na manhã desta segunda-feira (3) na região do entorno do prédio.

“A gente envelopou para preservar o documento e assim poder efetuar a entrega ao pessoal do Museu”. Sobre a tela do Marechal Rondon que foi retirada dos escombros, na tarde de segunda-feira, Cristiana Serejo disse que ela está um pouco “chamuscada”, mas será reconstruída por especialistas.

Segundo Serejo, os fragmentos de crânio encontrados, também entre os escombros do Museu Nacional, estavam próximos do local onde estava o crânio de Luzia, mas ainda está sendo analisado. “Essa situação é uma tragédia muito grande. A gente teve uma perda muito grande e vamos avaliar o que vai ser recuperado”, contou.

Perdas Totais

A vice-diretora do Museu Nacional afirmou ainda que a coleção egípcia do museu foi totalmente perdida. Uma biblioteca com exemplares de antropologia social também foi destruída no incêndio.A ideia, agora, para o museu, é receber todo material que está sendo oferecido por instituições nacionais e internacionais. “É um momento de clamor público”, disse a vice-diretora.

O laboratório de conservação do Museu Nacional que fica em um anexo está intacto, segundo Serejo. As coleções de vertebrados, insetos, invertebrados, herbário, alguns meteoritos e fósseis não foram afetadas. Uma biblioteca de 150 anos com quase 500 mil exemplares também está a salvo.

Uma empresa especializada será contratada para fazer a retirada dos escombros. “Eu estava andando pela Quinta quando vi o documento. É inexplicável a sensação de achar um documento do Museu Nacional em meio à destruição. Isso aqui não tem nem palavras eu não consigo nem falar o que eu estou sentindo”.

Sensação de ‘bombardeio’

Para o professor José Vagner Alencar, que trabalha há 17 anos na área de geologia do Museu Nacional, a sensação do que se vê é de um “bombardeio”.

“A sensação é como se tivesse sido bombardeado. O nosso laboratório fica nos fundos do Museu Nacional e os andares caíram por cima do nosso laboratório. Uma grande parte da história da geologia do Museu Nacional foi perdida”, disse ele.

“A sensação é horrível. É a mesma que se seu pai, sua mãe e seus filhos morressem todos juntos em um desastre aéreo”, completou.

José Vagner disse aos jornalistas, nesta terça-feira, que, no Museu Nacional, existiam amostras do primeiro poço de petróleo do Brasil. A área de geologia também perdeu uma ossada de uma baleia de 5 mil anos, encontrada em Cabo Frio.

“A amostra dela tem uma importância muito maior porque com essa amostra nós trabalhamos com a variação do nível do mar, mudanças globais e elas serviam como referência para fazer projeções de cenários futuros dessas variações de nível do mar que atingem o nosso planeta”, explicou José Vagner.

O professor explicou ainda que quase todo material da área de geologia foi perdido. No local, havia material utilizado por alunos da UFRJ e de outros países que vieram fazer pesquisas no Brasil.

“A gente vai ter que começar tudo do zero, mas a gente não vai desistir. Não é por um acidente desses que nós vamos desistir das coisas. Nós vamos atrás vamos das cinzas, vamos começar o trabalho a partir de segunda-feira”, disse ele.

Polícia Federal e Guarda Municipal cercam a Área

A área de todo o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Zona Norte do Rio, está cercada pela Polícia Federal nesta terça-feira (4), segundo dia de trabalho de rescaldo do incêndio que destruiu o prédio na noite de domingo (2). Somente pessoas autorizadas podem atravessar o cordão de isolamento, feito por policiais e guardas municipais.

Além de resguardar a segurança das pessoas, já que ainda surgem pequenos focos de incêndio e há risco de desabamento da estrutura interna do prédio, o isolamento visa preservar o entulho. Isso porque os cientistas, que atuam junto com os bombeiros, dizem que é possível haver, em meio aos destroços, peças que possam ser aproveitadas.

Exemplo disso é o crânio que foi encontrado pelos bombeiros em meio aos escombros no começo desta manhã. Ele pode ser de Luzia, o fóssil humano mais antigo da América. Um grupo de especialistas vai analisar o material.

Um bombeiro que trabalhou no controle das chamas contou que tentou resgatar Luzia, mas acabou ferido. Ao se arriscar no museu em chamas, ele relatou o desespero ao abrir um armário e só encontrar um ferro “incandescente”. Segundo ele, a alta temperatura do material derreteu a luva que o protegia do fogo e queimou seus dedos.

“Fizemos um esforço gigantesco e conseguimos nos aproximar e abrir o armário. Ao procurar Luzia, encontrei vazio e um ferro incandescente que derreteu minha luva e queimou meus dedos. Doeu, muito. Saí da sala e chorei. De dor? Não. De frustração,” destacou o soldado Rafael Luz.

A Defesa Civil do Rio de Janeiro informou na segunda-feira (3) que o local está interditado. Técnicos do órgão identificaram que “existe um grande risco de desabamento, que pode ocorrer com a queda de trechos remanescentes de laje, parte do telhado que caiu e paredes divisórias do prédio”. Na área externa, no entanto, a avaliação destaca que “devido à espessura das fachadas, não há risco iminente”.

Mesmo assim, na parte externa “foram constatados problemas pontuais, como queda de revestimento, adornos e materiais decorativos (estátuas) fazendo com que a área de projeção das fachadas também permaneça isolada”.

Fonte: G1


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